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  • Post published:26 de maio de 2022

Educação financeira, no Brasil, é um verdadeiro desafio. Grande parte da população não sabe fazer a gestão inteligente dos seus recursos, fazendo com que 70,9% das famílias brasileiras estejam endividadas.

Além disso, verifica-se também a falta de consciência no uso de créditos, como o cartão de crédito e empréstimos, evidenciando que a população de forma geral não entende o funcionamento da economia e age de forma imprudente quando o assunto são as finanças.

Falar de educação financeira é, portanto, uma urgência no Brasil. Para isso, existem diversas ferramentas que podem ser usadas ao redor de todo o mundo, sobretudo teorias econômicas.

Neste post, vamos falar sobre educação financeira a partir da perspectiva da economia comportamental, e de que forma isso se aplica a nossa vida prática.

Se você está buscando um material completo sobre educação financeira, fique até o fim, pois iremos publicar um conteúdo inédito no Brasil, baseado em estudos internacionais sem tradução para o português.

A necessidade da educação financeira

Os governos têm, cada vez mais, buscado ferramentas para proporcionar uma verdadeira educação financeira para suas populações.

Isso se dá porque já é mais que evidente que as pessoas têm dificuldade de lidar com seu dinheiro pessoal, o que prejudica a economia como um todo.

Somente os bancos têm interesse em deixar as pessoas endividadas. Todos os demais grupos são afetados negativamente por uma massa negativada. Inclusive o governo que, por vezes, se verá obrigado a proporcionar programas de assistência que custam caro aos cofres públicos.

Nesse sentido, algumas pesquisas e estudos têm ajudado o poder público a estabelecer programas de educação financeira mais eficientes.

É o caso de um estudo de 2002, publicado pela OCDE, bem como da Rede Internacional de Educação Financeira (INFE), criado pelo mesmo órgão em 2008 para proporcionar uma aliança internacional pela educação financeira.

Como já falamos, tais materiais no Brasil não são explorados e, neste artigo, vamos repercutir as principais descobertas, de forma inédita, sobretudo a partir da economia comportamental.

O que a economia comportamental tem a ver com a educação financeira?

A economia comportamental é essencial para a educação financeira, principalmente diante das mudanças que têm ocorrido na economia mundial e também brasileira, como é o caso da Reforma da Previdência, que agora exige que cada indivíduo possa pensar individualmente em seu futuro financeiro.

Para uma vida estável a longo prazo, exige-se uma mentalidade correta a respeito das finanças, tendo por premissa a educação financeira.

Mas é óbvio que a maioria das pessoas não têm essa educação, o que prejudica a projeção de futuro de muitos.

Nesse sentido, a economia comportamental pode fornecer caminhos práticos a respeito da educação financeira em dois sentidos:

  1. para Estados e governos, para que tenham insights práticos para a promoção de uma educação financeira mais eficaz;
  2. para pessoas, individualmente, para que consigam aplicar os princípios da economia comportamental em suas finanças pessoais. Esse é o nosso foco neste artigo.

O que é educação financeira?

Educação financeira é o processo pelo qual as pessoas melhoram sua compreensão a respeito das finanças, sobretudo pessoais, mas também do cenário econômico como um todo. Educação financeira é, portanto, essencial para que consumidores tomem decisões mais assertivas.

Além disso, aumenta a consciência para melhores escolhas e evidencia como buscar ajuda em caso de emergências, bem como quais ações tomar para potencializar o bem-estar financeiro individual e familiar

Lembre-se: o protagonismo das suas finanças pessoais pertencem a você e, portanto, deve ser assumido com responsabilidade.

A importância da educação financeira

Mas, afinal, será que a educação financeira é realmente importante? Nós vamos destacar quatro razões pelas quais sim, a educação financeira é importante.

Livra das armadilhas das inovações

O universo financeiro nunca experimentou tantas inovações em tão pouco tempo. Pix, acessibilidade facilitada ao cartão de crédito, facilidade na tomada de empréstimos, empresas que têm popularizado os investimentos e etc.

Essas são apenas algumas das inovações que podemos destacar, mas a lista é imensa.

No entanto, o crescente número de inovações evidencia um problema: as armadilhas de tais inovações.

Para exemplificar, basta pensar por exemplo em quantos brasileiros se enrolam com o cartão de crédito, ou em quantos golpes são aplicados por falsas empresas de investimentos.

O porquê disso? Pela falta de educação financeira.

Abre a mente para novos modelos de previdência

Já citamos esse item, mas vale a pena reforçá-lo: com a reforma da previdência, a responsabilidade por garantir a aposentadoria dos indivíduos deixou de ser apenas do Estado, mas passou a ser papel fundamental da família.

Embora ainda exista uma aposentadoria prevista por parte do Estado, esta tornou-se mais difícil de ser gozada.

Tal processo exige que pessoas e famílias se organizem para garantir futuros mais estáveis quando o assunto é a previdência.

Para proporcionar isso, somente com educação financeira.

Diminui a diferença entre ricos e pobres

Vale a pena destacar, ainda, que a diferença entre ricos e pobres é alimentada pela falta de educação financeira.

Basta pensar, por exemplo, que se os ricos continuam com acesso à informação em detrimento aos pobres, estes continuarão ainda mais pobres e aqueles continuarão cada vez mais ricos.

Proporcionar educação financeira é fazer com que os pobres consigam se organizar e diminuam a desigualdade social.

Favorece o bem-estar

Por fim, a educação financeira é importante para garantir o bem-estar de famílias e indivíduos.

Pessoas desorganizadas financeiramente não conseguem viver com conforto e bem-estar. Pelo contrário, só se afundam cada vez mais em dívidas.

A educação financeira é essencial para que as pessoas tenham mais conforto e segurança financeira, aumentando a qualidade de vida individual.

Como surgiu a economia comportamental?

A economia comportamental surgiu como uma tentativa de ampliar a visão das teorias econômicas tradicionais. A partir de 1950, autores como Herbert Simon passaram a analisar o comportamento dos indivíduos e a relação com a economia. Mas somente nos anos 70 é que a economia comportamental se estabeleceu de verdade.

Esse estabelecimento se deu a partir de alguns psicólogos que começaram a investigar o processo de decisão das pessoas e a influência disso na economia.

O resultado dessas investigações evidenciou que as teorias econômicas até então em voga não eram capazes de dar respostas satisfatórias para certos fenômenos comuns na sociedade e que impactam na economia geral.

Por causa disso, as descobertas da economia comportamental têm se destacado no mundo acadêmico e entre os maiores pensadores sobre economia do mundo. Por isso, em 1978, 2002 e 2013, estudiosos da Economia Comportamental receberam o Prêmio Nobel em Economia.

Economia comportamental e finanças pessoais

As finanças pessoais estão intimamente ligadas à economia comportamental. O saber das descobertas acadêmicas podem, e devem, ser aplicados à vida cotidiana e ações do poder público.

A primeira grande contribuição da economia comportamental para as finanças pessoais está em identificar os comportamentos nocivos que prejudicam a economia doméstica, sobretudo aquelas ações onde não há um uso total da razão.

Por meio da economia comportamental compreendemos que muitas decisões são tomadas no automático ou influenciadas por fatores externos, como amizades, cultura e etc.

Uma finança pessoal saudável deve, portanto, identificar tais comportamentos e corrigi-los.

Vale destacar, portanto, alguns desses comportamentos:

  1. necessidade gratificação imediata: quando a pessoa compra algo considerando apenas a gratificação que será recebida, deixando de lado fatores como preço e real necessidade;
  2. deixar de poupar para a aposentadoria: esse comportamento é muito próprio do brasileiro. Deixar de poupar para a aposentadoria, contando apenas com o tempo de contribuição para o INSS;
  3. excesso de solicitações de crédito e empréstimos: outro elemento crítico está no uso inadequado das linhas de crédito, o que inclui empréstimos e, principalmente, cartões de crédito;
  4. mentalidade equivocada para investimentos: no Brasil não há cultura de investimentos e, quando algum brasileiro aplica, é muito temerário aos ricos;
  5. influências sociais negativas: por fim, vale a pena destacar que um comportamento extremamente nocivo diz respeito às influências de amizades, colegas e familiares que, por terem um mau comportamento financeiro, acabam influenciando negativamente as pessoas ao redor.

A educação financeira mostra-se totalmente necessária para diminuir a incidência dos comportamentos acima citados. Somente através da educação é que tais barreiras poderão ser vencidas.

Fica evidente, a partir dos itens supracitados, que a economia comportamental tem uma enorme influência nas finanças pessoais.

Como preparar-se para a educação financeira?

O primeiro passo, quando falamos de educação financeira, é vencer as barreiras comumente levantadas quando esse assunto aparece. Algumas dessas barreiras são:

  • procrastinação: indivíduos que têm a prática da procrastinação em sua vida financeira tendem a procrastinar diante de uma solução de educação financeira;
  • inconsciência financeira: pessoas que não têm consciência sobre as realidades financeiras podem não ter interesse suficiente no assunto;
  • pessoas excessivamente confiantes em si mesmas: alguns indivíduos acreditam demasiadamente em si mesmos, o que os fazem crer que não precisam de educação financeira.

Diante de tais cenários, é importante destacar que a educação financeira não pode ser deixada para depois. Ela é essencial para pessoas que buscam segurança e conforto a longo prazo.

Mesmo que talvez você não tenha muito conhecimento sobre a área, é justamente por isso que deve buscar formas de crescer nesse conhecimento.

Não queira conduzir suas finanças através do seu feeling ou saber próprio, mas busque a ajuda de quem realmente entenda do assunto.

Para você aplicar a economia comportamental em suas finanças pessoais, é preciso buscar a educação financeira de forma livre. Indivíduos que buscam a educação financeira por obrigação ou para cumprir protocolos não conseguem reter as informações de forma satisfatória.

Além disso, é importante encontrar uma forma de ter uma educação financeira que esteja de acordo com sua linguagem e nível cultural, pois, caso contrário, terá dificuldade para se adaptar a certos ambientes.

Se o seu nível é iniciante em assuntos financeiros, busque fontes de conhecimento mais rápidas e objetivas. O alto volume de conteúdo pode impedir um conhecimento verdadeiro.

Além disso, busque métodos de estudo que facilitem a fixação do conteúdo dos programas de educação financeira.

Como aplicar a economia comportamental na educação financeira

Como vimos, a economia comportamental exerce um papel central nas finanças pessoais, justamente por evidenciar aspectos muitas vezes ignorados da vida prática de todos nós.

Torna-se facilmente compreensível, a partir de tudo que foi dito até aqui, que a economia comportamental pode inclusive ajudar na educação financeira, já que o objetivo desta é melhorar a forma como as pessoas encaram as finanças.

Por meio da economia comportamental, somos convidados a ter uma visão correta da vida financeira e de como utilizamos o dinheiro.

A seguir, vamos entender como aplicar a economia comportamental na educação financeira:

Maior acesso à informação

Se precisássemos elencar a principal contribuição da economia comportamental na educação financeira, com certeza poderíamos destacar a disponibilização da informação.

A informação de como consumimos e de como reagimos a estímulos que nos levam ao gasto, pode facilmente ser aplicada à vida rotineira, de modo a melhorar e deixar mais saudável nossa relação com o dinheiro.

Aumento da consciência das ações

A educação financeira, sobretudo quando amparada pela economia comportamental, favorece a tomada de decisão mais consciente.

Existe, de forma geral no mercado, processos de venda que incentivam a tomada rápida de decisão de forma emocional e ignorando a racionalidade.

Através de uma educação financeira profunda, você poderá agir ativamente diante de ofertas como essa, garantindo menos prejuízos financeiros.

Resolução de problemas financeiros

Os problemas financeiros também serão melhor resolvidos, já que a educação financeira promove uma mentalidade mais aberta e preparada para o raciocínio lógico e direto.

Mesmo diante de propostas financeiras, de investimentos, de crédito ou empréstimo, será possível usar os conhecimentos da educação financeira para acertar nas decisões.

Entendimento dos fatores ambientais e econômicos

Além disso, a educação financeira promove um melhor entendimento dos fatores ambientais e econômicos, garantindo que você não fique inerte aos acontecimentos do mundo, mas saiba interpretá-los e utilizá-los a favor da sua vida financeira.

Pessoas que têm tal compreensão sofrem menos com as instabilidades das bolsas, aumento de preços, inflação e etc.

Influência positiva na vida de outras pessoas

Por fim, uma educação financeira bem feita favorece uma rede do bem de influência, já que uma pessoa consciente consegue influenciar outras do seu círculo de amizades.

Se é verdade que pessoas com maus comportamentos financeiros levam outras ao seu redor para a perdição, também é verdade que pessoas conscientes podem transformar a realidade financeira de muitas outras que estão perdidas ao seu lado.

Como deixar a procrastinação na vida financeira?

A educação financeira bem feita estimula a maior parte das pessoas que têm acesso a conhecimentos desse tipo a tomar decisões práticas na vida.

No entanto, é possível observar um fenômeno curioso: muitas pessoas que passam pela educação financeira acabam por procrastinar suas ações, impedindo que o valioso conhecimento aprendido tenha efeitos práticos.

A seguir, vamos deixar algumas dicas para você deixar de lado a procrastinação e aplicar de verdade a educação financeira em sua vida:

Vincule a educação financeira a ações concretas

Não adianta prometer para si mesmo que sua vida financeira vai mudar. Adianta menos ainda colocar como resolução de ano novo “deixar de gastar com coisas desnecessárias”.

Tais resoluções, embora louváveis, não costumam refletir em ações práticas.

A razão para isso é muito simples: nosso cérebro precisa mensurar os passos que precisa dar.

Trocando em miúdos: não basta apenas prometer que vai fazer, é preciso afirmar o quê, quanto e quando vai fazer.

Com base nos conhecimentos da educação financeira, portanto, estabeleça metas claras, como por exemplo: “Não vou mais gastar com o cartão de crédito na internet” ou “Não vou comprar aquele doce que sempre compro às terças”.

Use ferramentas que te ajudam a mudar o comportamento financeiro

Outra dica importante está em aproveitar a tecnologia a seu favor. Existem ferramentas que podem te auxiliar a monitorar seu comportamento financeiro, fornecendo uma visão mais ampla de suas atividades e motivando a mudança.

Encarar os dados de seus gastos é uma ótima maneira de compreender o quão educado financeiramente você está ou não. Defina um dia fixo no mês para analisar seus números e encarar sua realidade financeira.

Conte com alguém ou algum mecanismo que acompanhe sua evolução

Muitos de nós só funcionamos a partir de cobrança e um acompanhamento muito próximo. É por isso que uma figura como a de um consultor financeiro é muito importante.

Esses profissionais podem ajudar a esclarecer algumas questões corriqueiras, bem como orientar no caminho rumo à uma educação financeira verdadeiramente consciente.

Estabeleça amizades com pessoas de comportamento financeiro positivo

Já mostramos por diversas vezes em nosso artigo o quanto a pressão social exerce uma influência em nosso comportamento financeiro. Embora na maioria das vezes isso funcione contra nós, é possível colocar essa realidade a nosso favor.

Como? É muito simples: cercando-se de pessoas que tenham um comportamento financeiro positivo. Ao transformar seu ecossistema nesse sentido, a pressão recebida agora não será para baixo, mas para cima.

Principais armadilhas para a vida financeira, segundo a economia comportamental

Antes de encerrar nosso artigo, vale a pena refletirmos sobre as principais armadilhas da nossa vida financeira que são, em grande parte, psicológicas e, justamente por isso, podem ser combatidas pela verdadeira educação financeira.

Conheça, na lista a seguir, tais armadilhas, segundo o economista comportamental Peter Earli:

  • Generalização (disponibilidade): nessa armadilha, nossa mente elege eventos incomuns e tenta transformá-los em regras. É o caso, por exemplo, de pessoas que veem ganhadores da loteria (que são raros) e acredita que aquilo tem uma alta probabilidade de acontecer com elas;
  • Percepção seletiva: quando as pessoas buscam ver o que querem, ignorando outros acontecimentos. É o caso de pessoas que focam no limite do cheque especial que aumentou, ignorando as taxas e juros;
  • Viés de custo irrecuperável: ocorre quando o usuário não cancela um serviço ou produto por causa do tempo que já consumiu. É o caso, por exemplo, daqueles que pagam academia e a deixam debitar no cartão, só para poderem ir outras vezes como uma certa “honra” ao período anterior pago (e que provavelmente não foi utilizado);
  • Pessimismo e otimismo: quando há uma tendência pessimista com probabilidades menores, bem como um otimismo exagerado com probabilidades menores. A falta de objetividade probabilística afeta a capacidade racional de decisão.

Educação financeira: o guia definitivo

Se você chegou até aqui é porque deseja dar passos práticos em sua educação financeira. Para te ajudar, Dr. Money preparou um guia exclusivo que está disponível em nosso blog para quadrinhos.
Para acessá-lo, basta conferir o post completo “Guia definitivo para educação financeira”. Acesse o link e aproveite.

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